terça-feira, 3 de abril de 2012

Secretariado executivo é a terceira profissão que mais cresce no mundo


Por: Henrique Moraes 22/01/2012


De acordo com a Federação Nacional das Secretárias e Secretários, o salário de uma secretária executiva varia entre R$ 1.052 (nível médio) e R$ 7 mil

Não há uma estatística apontando quantos secretários executivos existem, mas a Organização das Nações Unidas (ONU) diz que a profissão é a terceira que mais cresce no mundo. E num Brasil em pleno desenvolvimento este profissional está cada vez mais requisitado e valorizado. De acordo com a Federação Nacional das Secretárias e Secretários (Fenassec), o salário de uma secretária executiva varia entre R$ 1.052 (nível médio) e R$ 7 mil (nível superior numa empresa de grande porte).
Consuelo Aparecida Moco Rosa Fradique, consultora de RH do Centro Nacional de Estudos e Projetos (Cnep), afirma que o mercado está exigindo profissionais não só bilíngues, mas também trilíngues.
“A procura por secretários executivos com esse perfil é grande em empresas multinacionais e nacionais públicas ou privadas que fazem negócios com outros países. Hoje, além do inglês e do espanhol, outros idiomas também são valorizados, como o mandarim, o japonês e o árabe”, diz.
Consuelo Fradique aponta que o salário de uma secretária que fale duas ou três línguas pode ser quatro vezes maior.
“Tomando como teto máximo de salário de R$ 1,6 mil de uma secretária com nível técnico, ela pode ver a sua remuneração quadruplicar sendo bilíngue ou trilíngue”, calcula.
A consultora de RH da Cnep avalia que o mercado está carente quando se trata de profissionais graduados.
“Existe uma carência muito grande de mão de obra qualificada em nível superior. Por isso, a disputa por esse profissional é acirrada. Quem está aproveitando são os estagiários de cursos de graduação de secretariado executivo que podem receber até R$ 1 mil. Muitos deles, antes mesmo de se formar, já estão sendo absorvido pelo mercado”.
Espaço – Num mercado dominado pelas mulheres, a consultora da Cnep comenta que há espaço para os homens. “Segundo a Fenassec, hoje os homens dominam 5% deste mercado, em média”, cita.
Bernadete de Lourdes Silva do Prado, coordenadora do curso de Secretariado Executivo Trilíngue da Estácio de Sá, conta que tem recebido matrículas de homens.
“Atualmente temos recebido um número cada vez maior de alunos do sexo masculino. O que já parece ser o reflexo de uma mudança no mercado”, comenta.
Já Luciana Marson, coordenadora do curso de Secretariado Executivo da Universidade Unigranrio, avalia que o mercado ainda é preconceituoso. “Aos poucos está mudando.  Contudo, até hoje somente cinco rapazes concluíram o curso que existe desde 1994”.
Gestor de informações
Consuelo Fradique do Cnep lista os aspectos avaliados na hora de se contratar uma secretária executiva. Segundo a consultora em RH, ter curso superior, domínio dos programas do MS Office, excelência no atendimento e fluência em dois idiomas são sempre exigidos.
“O profissional secretário executivo, hoje, não cumpre mais tarefas de apoio e sim de complementação das atividades. É peça estratégica, pois atua como gestor de informações da empresa e do seu executivo. Tem que ser alguém que circule com facilidade por todos os setores da organização e saiba delegar as responsabilidades para as pessoas certas”, enumera.
“São profissionais que trabalham junto à gerência, diretoria, vice-presidência e presidência das companhias”, conclui.
A coordenadora do curso da Unigranrio, Luciana Marson, dá algumas orientações no que se refere a postura profissional.
“A pessoa deve ser proativa e empreendedora com capacidade de gerar soluções  inovadoras. Precisa ter habilidades de planejamento e capacidade de assumir riscos”, ensina a coordenadora do curso da Unigranrio, que é de três anos e abre 30 vagas por semestre.
Samantha Brandão Provietti, de 26 anos, aluna do curso de Secretariado Executivo da Unigranrio, está estagiando numa empresa pública há um ano. Farmacêutica de formação, ela abandonou a profissão há dois anos para se dedicar à nova carreira.
“Por não estar mais satisfeita como a área de Farmácia decidi pesquisar sobre o curso de Secretariado. Adorei as matérias e a ideia de trabalhar no meio”, frisa.
Samantha está cursando inglês e espanhol e pretende fazer pós em Relações Internacionais. “Em julho deste ano concluo a graduação em Secretariado Executivo na Unigranrio. A minha prioridade é terminar meus cursos de idiomas e depois tentar uma especialização em Relações Internacionais”, planeja.
Congresso em junho
Dos dias 6 a 9 de junho acontece o XVIII Congresso Nacional de Secretariado (Consec) e o VI Simpósio Internacional de Secretariado (Simisec), no Centro de Convenções Minas, em Belo Horizonte.
Tendo como tema central o Universo do Profissional de Secretariado em Mercados  Interconectados e Globalizados, o congresso é composto por três eventos: palestras, Fórum de Competências e Fórum Internacional sobre a atuação e atribuições do profissional.
“O Consec é um evento que acontece de dois em dois anos, sendo que tem a responsabilidade de agregar toda a categoria em nível nacional para discutir as tendências, cenários, evolução, mudança de perfil e de mercado”, avalia Bilica Lemos, membro da comissão organizadora do Consec.
O evento deverá ter cerca de 1,7 mil participantes.“O congresso terá dois painéis importante onde mostrará o profissional de secretariado como cogestor dos processos administrativos, do gerenciamento e da gestão de equipes. De suas atribuições e responsabilidades na gestão de resultados organizacionais”.
Investimento – Maria Isaura Santana Vieira, de 41, trabalha há 13 anos como secretária executiva na empresa Cobrart Gestão de Ativos e Participações, no Centro do Rio. Apesar de ainda não ter uma segunda língua, ela pretende fazer um curso de idiomas.
“Já estou ingressando em uma turma de um curso de inglês que fica aqui mesmo no prédio da empresa onde trabalho. Certamente irá melhorar o desempenho profissional”, prevê.
Maria Isaura lembra que não começou na empresa na função de secretária. “No começo eu entregava correspondências, atendia telefone, passava fax. Já havia trabalhado em uma loja de sapatos e em uma grande empresa alimentícia, na área administrativa. Como secretária foi a primeira vez. Quando vi já estava nesta função da qual estou há 13 anos”, relembra.
Indispensável estudar outros idiomas
Bernadete Prado, coordenadora do curso de Secretariado Executivo Trilíngue da Estácio de Sá, avalia que é cada vez mais indispensável estudar outros idiomas.
“A globalização trouxe ao mercado a necessidade de um profissional diferenciado, capaz de se comunicar com proficiência não só em língua inglesa, como também em língua espanhola e francesa. Em um futuro breve, acredito que um profissional de secretariado executivo também tenha que se comunicar em mandarim”, calcula a coordenadora da Estácio.
Alexandra da Silva Queiroz, de 34, secretária executiva da Pró-Reitoria da Universidade Candido Mendes (Ucam), trabalha há 12 anos na área. Graduada em Secretariado Executivo pela Ucam, ela destaca a importância de um curso superior. “Fiz o curso de 2004 a 2006. Foi quando percebi que a função de secretária executiva de fato exige a busca permanente por conhecimentos. Ter cursado o ensino superior fez uma diferença enorme no meu desempenho diário. Cresci muito profissionalmente”, indica.
Alexandra lembra que realizou um sonho de infância. “ Quando criança brincava de ser secretária com minhas amigas”, diz.
Ela conta ainda que começou na Ucam como auxiliar de coordenação. “Tornei-me secretária quando meu chefe ficou sem secretária e acabei assumindo o papel e vi a grande chance da minha vida”, afirma  Alexandra, completando que de imediato percebeu a necessidade de aprimoramento. “O mercado exige conhecimento e atualização permanente”.
Reciclagem – O curso de Práticas de Secretariado do Senac Rio é uma oportunidade para profissionais do meio que querem se atualizar e para aqueles que estão iniciando na área.
“Ele não é um curso de formação de secretariado executivo e sim direcionado para as pessoas que buscam aperfeiçoamento e para os que vão trabalhar dando suporte a uma secretária executiva, por exemplo”, explica Thiago Ângola, especialista de Gestão do Senac Rio.
“Mas numa empresa de pequeno porte a pessoa pode trabalhar tranquilamente”.

O FLUMINENSE

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012


A arte de se relacionar
ISTOÉ



Comportamento
|  N° Edição:  2200 |  06.Jan.12 - 21:00 |  Atualizado em 28.Fev.12 - 19:09

Como as seis habilidades fundamentais que compõem a nova teoria da inteligência social - a capacidade de lidar com as outras pessoas - podem garantir o sucesso na vida pessoal e profissional

Débora Rubin

Sim, o gene da gentileza existe. E, segundo estudo da Universidade de Toronto, no Canadá, que fez a descoberta, a chance de se nascer com ele é uma em três. Os felizardos portadores do genótipo GG, como é chamado, são aqueles simpáticos, extrovertidos, bem-relacionados e sempre dispostos a ouvir o que os outros têm a dizer. Os demais tipos, AG e AA, tendem à desconfiança e não são lá muito sensíveis às necessidades alheias. Mas se você não se reconhece nos “gegê”, não se preocupe. A arte de se relacionar, cada vez mais apontada como item fundamental para se alcançar e manter o sucesso na vida pessoal e profissional, virou uma espécie de obsessão dos estudiosos do comportamento humano nos últimos anos e do trabalho deles vem emergindo uma série de conclusões mostrando que o destino genético, neste caso, não é definitivo e que existem outras maneiras de adquirir aquilo que a biologia lhes negou. Uma delas é aprimorar a sua inteligência social, um novo conceito que começa a ganhar espaço em consultórios de psicologia, lares e até mesmo nas empresas e que pode ser definido como a capacidade de lidar com as outras pessoas e entender os sentimentos alheios. “Melhorar nossas competências sociais é fundamental para se ter mais qualidade de vida”, afirma a psicóloga Mônica Portella, do Centro de Psicologia Aplicada e Formação do Rio de Janeiro (CPAF-RJ), autora do livro “Estratégias de THS – Treinamento em Habilidades Sociais” e uma das principais propagadoras da chegada de uma era da inteligência social.

O conceito segue na esteira de um outro fenômeno da psicologia, a propagada inteligência emocional – termo que ficou mundialmente famoso nos anos 1990, a partir dos best-sellers do psicólogo americano Daniel Goleman, e se tornou uma espécie de referência para avaliar as probabilidades de uma pessoa ser bem-sucedida. Quanto maior a capacidade de identificar os nossos sentimentos e dos outros, de nos motivar e gerir bem nossas emoções e relacionamentos, maior o coeficiente de inteligência emocional. A inteligência social, por sua vez, está atenta à forma como o indivíduo ocupa seu espaço nos ambientes coletivos. E propõe uma verdadeira ginástica psicológica para exercitar habilidades atrofiadas de convivência. Pelos preceitos da psicologia positiva, quando se treina constantemente determinadas habilidades, é possível ajeitar defeitos de fabricação e construir relacionamentos saudáveis. Segundo especialistas que se debruçaram sobre o tema, são seis as habilidades que devem ser trabalhadas: comunicação verbal, não verbal, assertividade, autoapresentação, feedback e empatia (leia quadros).

PARCEIROS
Adriano Oliveira, do Rio, não conseguia ter uma boa relação
com o filho Lucas. Lançou mão da assertividade, passou a se
expressar de forma clara e honesta e hoje são grandes amigos

Aperfeiçoar a arte de falar e escutar, saber a melhor forma de se portar e vestir em situações distintas, conseguir dizer não quando necessário, dar feedbacks (o popular retorno) sem gerar mágoas e estar atento às necessidades do outro são o que os teóricos da inteligência social chamam de “desenvolver o ouvido emocional.” Essas características pessoais, obviamente, não são novas, nem mesmo algumas das técnicas utilizadas para desenvolvê-las. O que os especialistas fizeram foi reunir conceitos em alta na sociedade contemporânea e formatar uma nova embalagem, tal qual ocorreu com a inteligência emocional. E aplicá-los de uma forma mais direta, de acordo com a necessidade do freguês. O psicólogo Adriano Oliveira, 47 anos, decidiu beber de sua própria fonte, a terapia, para aparar as arestas do relacionamento turbulento que tinha com o filho Lucas, hoje um jovem de 18 anos. Cearense radicado no Rio de Janeiro, Oliveira foi criado dentro de um modelo patriarcal tradicional. Ao copiar seu genitor, quase perdeu o filho. Separado da mãe de Lucas desde que o menino tinha sete anos, ele só via o filho a cada 15 dias, até que o garoto não quis mais ir para a casa do pai. A reconquista aconteceu gradativamente, mas começou quando o psicólogo se deu conta de que não sabia pedir desculpas se exagerava na dose. “Também percebi que não sabia dar carinho, coisa que ele me cobrava muito.” O terapeuta desenvolveu, entre outras habilidades da inteligência social, a assertividade, ou seja, a capacidade de se expressar de forma clara e honesta.

O mundo do trabalho também vem exigindo cada vez mais pessoas com altos coeficientes de inteligência social. Uma pesquisa feita com 46 mil executivos brasileiros pelo Grupo Catho identificou que entre os principais fatores na contratação de um funcionário estão o desempenho dele na entrevista e suas competências comportamentais (curiosidade: fluência em inglês ficou na lanterninha). Segundo Regiane Chaves, responsável pelo recrutamento da indústria de alimentos Nestlé, as competências comportamentais representam de 70% a 80% do que sua equipe avalia durante o processo seletivo. “As habilidades técnicas estão no currículo e são sempre mais fáceis de desenvolver posteriormente; já as comportamentais são mais difíceis”, diz. Regiane conta que, durante a seleção, pede que a pessoa relate algum episódio de um emprego anterior na qual ela teve que lidar com uma situação difícil. “É por meio desse depoimento que vamos ver como ela trabalha em equipe, com as hierarquias, como age num momento de crise.” Uma vez funcionário da Nestlé, há programas de treinamento dessas competências, em especial dos líderes. As empresas estão cada vez mais preocupadas com a inteligência social e emocional de seus funcionários por causa da “guerra de talentos” que está acontecendo no mercado aquecido. “Quando uma pessoa tem um comportamento inadequado, isso ajuda a afugentar talentos – principalmente quando essa pessoa é o líder da equipe”, afirma Regiane.


RETORNO
Fernanda (à esq.), de São Paulo, carrega consigo a máxima do mundo
corporativo de que o feedback deve ser profissional e nunca pessoal

Paulo Almada, 33 anos, engenheiro que mora em Florianópolis (SC), aprendeu a importância de desenvolver a inteligência social nos primeiros anos de profissão. “Buscar conhecimento técnico e atualização na minha área é fácil, está tudo nos livros e manuais”, diz. Já saber se relacionar com os colegas sem perder o foco em brincadeiras e longe das intrigas era um desafio um pouco mais complexo. Almada investiu em um curso focado em desenvolvimento humano e faz do aikido, arte marcial japonesa, seu aliado para manter a atenção. “Já consigo me expressar melhor e, principalmente, ouço mais.” A habilidade da inteligência social mais trabalhada pelo engenheiro foi a comunicação.

O consultor de executivos Dino Mocsányi é expert em capacitar líderes de grandes empresas e levanta a bandeira de que as corporações deveriam investir cada vez mais nesse tipo de treinamento. Uma das maiores dificuldades do mundo corporativo, acredita, são os ruídos de comunicação. “Vivemos em tempos em que todos querem falar e ninguém têm paciência para ouvir”, afirma. A paulistana Fernanda Tonon, 34 anos, que foi gestora na área de tecnologia da informação durante 15 anos, lembra de mais um problema: os chefes que não sabem dar retorno (ou feedback, na linguagem corporativa). “Tive um que vivia dizendo que eu deveria deixar de ser desbocada, mas nunca apontava quais eram as minhas deficiências profissionais”, diz ela, que mudou radicalmente de área e agora usa o que aprendeu com a inteligência social, e a maneira certa de dar e receber retornos, em seu consultório, como terapeuta junguiana.



BEM-ESTAR
Para conseguir treinar a sua empatia e se colocar no lugar do outro – no caso,
seus funcionários –, a carioca Claudia mergulhou nos cursos de autoconhecimento

Saber estabelecer uma comunicação fluida não é tão simples quanto parece. Além de afinar o ouvido e saber a hora certa de se pronunciar, o corpo deve estar de acordo com o que se fala. “Se uma pessoa me diz que está feliz, mas seus ombros estão caídos e o rosto é inexpressivo, fica difícil acreditar no que sai de sua boca”, diz a fonoaudióloga Camille Pinho. O tom da voz, o ritmo, a intensidade da fala e até a roupa usada pelo interlocutor – a tal da autoapresentação, outro item que compõe a inteligência social – podem estar em desacordo com a palavra dita. Saber ler o interlocutor é também parte dessa arte. No entanto, algumas expressões estão passando despercebidas. “Nossas pesquisas revelam que o medo, a tristeza e a raiva têm perdido espaço na sociedade moderna”, diz o especialista em leitura de expressões faciais e corporais João Oliveira, autor do livro “Saiba Quem Está à Sua Frente” (Wak Editora).
Entender os sentimentos contidos nos gestos e captar as mensagens subliminares na fala dos outros era questão de honra para o engenheiro e gestor de projetos Beto Caleffi, 49 anos, de Porto Alegre. Caleffi trabalha numa empresa de tevê a cabo com 450 empregados e viaja o Brasil inteiro para implantar projetos. O diálogo constante com funcionários dos mais variados níveis exige dele maleabilidade. “Se alguém me recebe de braços cruzados, sei que está fechado para mim e tento logo mostrar que não represento uma ameaça”, diz. O empenho, obtido sobretudo no curso de leitura de sinais e no de programação neurolinguística (PNL), rende frutos na vida pessoal. “Você estabelece relações mais verdadeiras, pois não cria subterfúgios para ser quem é”, diz ele, um craque na comunicação não verbal. Seja em casa, no trabalho ou no supermercado, Caleffi tem como mantra fazer o bem para colher coisas boas.

FOCO

Paulo Almada, de Florianópolis, fez cursos direcionados e pratica
aikido, arte marcial japonesa, para melhorar a capacidade de
comunicação e manter atenção total em suas conversas

Esse, aliás, é o lema preferido do consultor e especialista em networking George Fraser. Em seu livro “Click – Dez Verdades para Construir Relacionamentos Profissionais Extraordinários” (BestBusiness), ele aponta como a verdade mais importante a máxima bíblica totalmente ignorada nas relações profissionais: ame, sirva, ajude o próximo. Só assim, diz o autor, é possível aumentar o círculo de pessoas com as quais mantemos relacionamentos saudáveis. “Saber se relacionar é a base de tudo”, afirma Fraser, que escreveu o livro para mostrar que networking não tem a ver com conseguir algo dos outros, mas sim com oferecer o que você tem de melhor. A escola de desenvolvimento humano deste americano de 66 anos foi a própria vida. Órfão e sem grandes expectativas, ele decidiu desafiar os que lhe aconselharam a fazer um curso técnico e se dar por satisfeito. Conseguiu cursar uma universidade, virou executivo de multinacionais e deixou a promissora carreira para abrir sua própria consultoria. “Muito cedo eu percebi que se fosse legal com as pessoas, ouvisse mais, sorrisse mais e servisse mais, teria ajuda”, diz. “E elas começaram a me ajudar.” O americano percebeu sozinho que a chave do sucesso seria cultivar relações. Talvez ele seja um felizardo “gegê”, o gene da gentileza.

No estudo conduzido pela cientista Aleksandr Kogan, 23 casais com o mapeamento genético traçado foram filmados na seguinte situação: um contava ao outro um momento difícil de sua vida. A filmagem tinha como foco o ouvinte. As imagens foram, posteriormente, exibidas para desconhecidos que tinham que apontar quais eram os mais solidários à história que estava sendo contada e quais não pareciam se importar tanto. Os mais preocupados eram – bingo! – os “gegês”. O estudo é um desdobramento de um trabalho feito anteriormente pela americana Universidade de Oregon, que descobriu as variações genéticas ligadas à oxitocina, o hormônio envolvido nos processos de vínculo afetivo, empatia, conexões sociais. As descobertas podem ajudar no tratamento de distúrbios como o autismo, já que os AA e os AG correm mais riscos de desenvolver a síndrome. A forma como a genética afeta o comportamento, entretanto, ainda é pouco conhecida. Sarina Rodrigues Saturn, da Universidade de Oregon, lembra que qualquer um, entretanto, pode superar seus genes. Afinal, não é todo mundo que nasce com inteligência social em abundância, caso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de outros personagens notórios (leia quadro ao lado). E dá um conselho sobre quem não nasce “gegê”. “Tudo o que essas pessoas precisam é de um pouco de estímulo para saírem de suas conchas.”

ATENÇÃO

O gestor de projetos Beto Caleffi, de Porto Alegre, usa a comunicação
não verbal: lê expressões corporais e faciais para compreender
melhor os funcionários da empresa onde é sócio

Os primeiros ensinamentos sobre relações começam na infância. É de pequeno que se deve aprender a interagir de uma maneira saudável. “Esse primeiro momento é fundamental para o desenvolvimento psíquico e neurológico do ser em formação”, alerta o psiquiatra Ricardo Krause, especialista nas relações entre pais e filhos. “O estímulo externo orienta o caminho que os neurônios vão tomar na formação do cérebro.” Uma boa dica para os pais é falar sobre suas próprias emoções e sobre os sentimentos dos outros. De preferência, antes dos oito anos de idade. É o que aponta um estudo feito pela Universidade de Sussex, da Inglaterra, que mostrou que as mães que conversam sobre o estado mental e emocional das pessoas e delas mesmas criam filhos com uma inteligência social maior – mais atentos, empáticos e com uma compreensão mais ampla dos estados emocionas ao seu redor.

A boa notícia é que nunca é tarde para começar. A carioca Claudia Pimentel, 48 anos, virou uma aluna das competências sociais em tempo integral quando, há três anos, herdou uma fazenda de eucaliptos e de gado de corte. Foi preciso treinar, sobretudo, a habilidade social da empatia para entender a mentalidade de seus funcionários e o ritmo de vida do interior. “Queria também ser mais assertiva e dizer não sem ganhar cara feia em troca”, diz. Três anos depois, a vida ficou mais leve. Claudia, todavia, sabe que não pode se acomodar. Afinal, até os “gegês” precisam aprimorar sua inteligência social por toda a vida.